Encante-se com o livro A menina que gostava do vazio
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| Foto by Julay |
Livro A Menina que Gostava do Vazio
Autora: Luh Oliveira
Ilustração: Laura Mocelin
Editora: Editus
O livro A Menina que Gostava do Vazio, de Luh
Oliveira, é uma obra profundamente poética e sensível, que convida crianças e
adultos a refletirem sobre imaginação, criatividade e o poder transformador das
pequenas coisas. Inspirado no poema O menino que carregava água na peneira,
de Manoel de Barros, o texto adota um tom lírico, brincando com os
“despropósitos” da infância e a maneira como as crianças enxergam o mundo.
Narrativa e Temática
A história centra-se em uma menina que, com sua criatividade
e curiosidade, desafia a lógica do mundo adulto. A protagonista constrói
castelos de areia sobre o orvalho, busca areia nas cores do arco-íris e
transforma o ordinário em extraordinário. Suas aventuras são cheias de
metáforas que remetem à liberdade de sonhar e à capacidade de preencher os
vazios da vida com imaginação.
O vazio, no contexto do livro, não é visto como algo
negativo, mas como um espaço aberto para possibilidades infinitas. Essa visão
dialoga profundamente com o universo poético de Manoel de Barros, onde a
simplicidade e os “despropósitos” têm papel central. A obra destaca a
importância de valorizar o lúdico e o poético, sobretudo em tempos em que a
lógica e a utilidade parecem prevalecer sobre a beleza do imaginário.
Personagens e Simbolismo
Os amigos da menina – a cotovia, a lagarta, o beija-flor, a
formiga e até o peixe que mora no bolso de seu vestido – são mais do que
personagens coadjuvantes; são representações do vínculo entre a criança e a
natureza. Cada um deles colabora na construção dos castelos, simbolizando como
a criatividade coletiva pode dar forma a sonhos.
A transformação da lagarta em borboleta é um ponto alto da
narrativa, pois marca o momento em que a menina compreende algo maior sobre a
vida: o ciclo natural de mudança e crescimento. Essa metáfora conversa
diretamente com o processo de amadurecimento da protagonista, que passa de uma
fase lúdica e intuitiva para a descoberta de sua vocação artística.
Estilo e Linguagem
A escrita de Luh Oliveira é marcada por um lirismo
encantador, que mistura prosa e poesia de forma harmoniosa. A narrativa não
apenas descreve, mas convida o leitor a experimentar as sensações e as imagens
que evoca. A autora usa frases curtas, repletas de imaginação e doçura, que
dialogam diretamente com o público infantil, mas também encantam os adultos por
sua profundidade implícita.
Conexão com o Poema de Manoel de Barros
Assim como o menino de Manoel de Barros “carregava água na
peneira” e desafiava a lógica com sua inocência, a menina de Luh Oliveira
transforma o vazio em possibilidade. A obra homenageia o legado de Manoel de
Barros, preservando o espírito de celebração do inútil e do pequeno, tão
característico do poeta.
Reflexões para Crianças e Adultos
O livro provoca uma reflexão profunda sobre a infância como
um espaço de liberdade criativa, onde as regras podem ser reinterpretadas e os
limites podem se dissolver. Para as crianças, a história é um convite a
imaginar e explorar; para os adultos, é um lembrete de que a poesia pode ser
encontrada nas coisas simples e nas “peraltagens” da vida.
Conclusão
A Menina que Gostava do Vazio é uma obra de arte
literária que transcende as barreiras da literatura infantil. Sua linguagem
poética, seu simbolismo rico e sua mensagem sobre criatividade e transformação
fazem dele um livro especial, capaz de tocar leitores de todas as idades. É uma
celebração do imaginário, do vazio como espaço fértil e da poesia como essência
da vida.

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